DGS, divulgue os dados

Em 29 de maio foi publicado um artigo de opinião meu no jornal português Público: “DGS, divulgue os dados“. O texto aborda a opacidade da DGS na divulgação de dados sobre os doentes com covid-19 e como isso cria a ilusão (repetida por autoridades) de que o SARS-COV-2 é “um vírus democrático”. Segue um trecho:

As informações sobre os infectados pelo novo coronavírus disponibilizadas por diversos países mostram que factores sociodemográficos alteram o risco da doença. Talvez em Portugal seja diferente e aqui nenhuma classe social, minorias étnicas ou raciais estejam a ser desproporcionalmente afectadas. Mas não temos como verificar porque a Direcção-Geral da Saúde não divulga dados sociodemográficos nos seus boletins epidemiológicos.

A covid-19 nas capas do Correio da Manhã

Coronavírus nas capas do CM

O Correio da Manhã (CM) é, de longe, o jornal mais lido em Portugal e a primeira chamada sobre a covid-19 na capa do CM foi em 26 de janeiro: “Primeiro caso suspeito chega a Portugal“. A suspeita foi descartada dias depois. O tema voltou a estampar a capa do generalista no dia 31: “Netos de Marcelo escapam ao vírus da China“. Entretanto, apenas em 26 de fevereiro, um mês após a 1ª chamada na capa, o CM dedica a manchete ao novo coronavírus: “Mais de 80 mil infetados com vírus da China“. E desde 9 de março o tema é o principal destaque do jornal. Abaixo, as capas desde 26 de janeiro até 04 de março.

Capas do CM em 2020

A covid-19 e o jornalismo guiado por dados

Em 28 de abril, foi publicado um artigo de opinião meu no jornal português Público: “A covid-19 e o jornalismo guiado por dados“. O texto aborda a cobertura da pandemia e discute se esta pode, ou não, representar um momento de viragem no jornalismo guiado por dados em Portugal. Segue um trecho:

Boas visualizações de dados contam histórias complexas de forma simples e clara, sem nunca descurar do cumprimento rigoroso da apuração. São projetos mais demorados para produzir e que exigem profissionais com diferentes aptidões: investigação, estatística, programação, design. Infelizmente, praticamente nenhuma redação portuguesa tem uma equipe dedicada ao jornalismo guiado por dados (data-driven journalism). A falta de capital e a crise crônica que assola o setor é apenas parte da razão. A ausência de disciplinas sobre o tema nas licenciaturas das universidades portuguesas é outro fator determinante.