Em 29 de maio foi publicado um artigo de opinião meu no jornal português Público: “DGS, divulgue os dados“. O texto aborda a opacidade da DGS na divulgação de dados sobre os doentes com covid-19 e como isso cria a ilusão (repetida por autoridades) de que o SARS-COV-2 é “um vírus democrático”. Segue um trecho:
As informações sobre os infectados pelo novo coronavírus disponibilizadas por diversos países mostram que factores sociodemográficos alteram o risco da doença. Talvez em Portugal seja diferente e aqui nenhuma classe social, minorias étnicas ou raciais estejam a ser desproporcionalmente afectadas. Mas não temos como verificar porque a Direcção-Geral da Saúde não divulga dados sociodemográficos nos seus boletins epidemiológicos.
Em 28 de abril, foi publicado um artigo de opinião meu no jornal português Público: “A covid-19 e o jornalismo guiado por dados“. O texto aborda a cobertura da pandemia e discute se esta pode, ou não, representar um momento de viragem no jornalismo guiado por dados em Portugal. Segue um trecho:
Boas visualizações de dados contam histórias complexas de forma simples e clara, sem nunca descurar do cumprimento rigoroso da apuração. São projetos mais demorados para produzir e que exigem profissionais com diferentes aptidões: investigação, estatística, programação, design. Infelizmente, praticamente nenhuma redação portuguesa tem uma equipe dedicada ao jornalismo guiado por dados (data-driven journalism). A falta de capital e a crise crônica que assola o setor é apenas parte da razão. A ausência de disciplinas sobre o tema nas licenciaturas das universidades portuguesas é outro fator determinante.
Esta peça traz uma excelente introdução explicando como ler alguns dos gráficos mais utilizados durante essa pandemia. Em seguida, analisa o que países como Cingapura e República da Coreia fizeram para “achatar a curva” e o que correu mal em Itália e Estados Unidos. Em outro trabalho, ABCcontextualiza a importância da taxa de crescimento de casos de um dia para o outro e mostra o atual variação em diversos países.
Consequências das medidas restritivas ao redor do mundo são apresentadas em uma série de gráficos. A BBC também tem páginas dedicadas ao impacto da doença no Reino Unido e no mundo.
Após uma contextualização sobre a evolução da curva de novos casos na Espanha e em outras localidades com muitos infectados, este especial traz um infográfico interativo em que é possível comparar a curva da Espanha com a de outros países. O Estadão, a FSP e o NYT são alguns dos veículos que também desenvolveram ferramentas interativas para comparar a evolução nos casos de covid-19. El Confidencialtem outro especial mais focado nos casos espanhóis. Mas sobre o impacto do coronavírus na Espanha, este trabalho do El País é bem mais completo.
Análise da evolução da epidemia nas comunidades autônomas da Espanha. É possível utilizar diferentes variáveis para comparar as regiões, entre elas o R0 (número básico de reprodução) de mortos e de casos. Falando em R0, há trabalhos do próprio El País e do Estadão explicando esse conceito.
Nessa página temos (1) detalhes sobre a evolução da curva de novos casos em cada estado do Brasil e (2) e um compêndio com as curvas de todos os estados do país.O Estadão também produziu uma peça focada nas microrregiões do Brasil.
Os gráficos do John Burn-Murdoch com a evolução das mortes e com casos da doença são já um clássico, inspirando outros veículos e sendo discutido fervorosamente nas redes sociais. A página já é a mais acessada da história do FT e segue sendo atualizada com novos gráficos, permitindo outras leituras dos dados. Por exemplo, um streamgraph foi adicionado recentemente.
Monitoramento da situação da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Destaque para os mapas com dados dos municípios. O G1produziu uma linha do tempo com os casos confirmados em cada cidade do país. Falando em dados dos municípios, o Brasil.IOdisponibiliza dados atualizados com os casos e óbitos confirmados pelas secretarias estaduais de saúde.
Esta peça interativa mostra quem são os trabalhadores que correm mais risco de contágio por conta das funções que executam. É possível filtrar por área de atuação e pesquisa o índice de risco de contágio em mais de 2500 atividades profissionais.
Este especial interativo mostra como o estado de emergência (decretado em 18 de março devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus) impactou diferentes setores em Portugal. Em uma abordagem parecida, o NYT explorou como a covid-19 mudou a forma como os americanos gastam e navegam na Internet, enquanto o FT mostrou os efeitos na economia mundial. A Google, por sua vez, lançou um relatório com dados sobre o impacto da pandemia de covid-19 na mobilidade e nos hábitos de usuários da empresa em 130 países. Em outras peças interativas, o Públicomostra o risco de infecção e a evolução da doença por conselho.
Há muitas incertezas sobre o novo coronavírus. O real número de vítimas é uma. Muitas vezes a confirmação da causa da morte só ocorre dias depois. Por isso, The Economist resolveu acompanhar o “excesso de mortalidade” em alguns locais severamente atingidos pela covid-19. James Tozer explica melhor. NYT, FT e WPost também desenvolveram visualizações para acompanhar essa discrepância.
Especial do NYT explicando como a covid-19 se espalhou pela China e pelo mundo ainda em Janeiro. Em outra peça, o jornal mostra a subida vertiginosa de mortos na cidade de Nova Iorque no último mês. Há ainda visualização interativa da evolução da pandemia por região metropolitana nos Estados Unidos.
O ritmo de contaminação por coronavírus é apresentado em 4 diferentes simulações nesse especial. Em menos de uma semana essa página se tornou a mais acessada na história do jornal. Após esse trabalho, Kevin Simler criou várias simulações interativas que ajudam a compreender como uma epidemia se desenvolve. A cobertura do WPostsobre o impacto da covid-19 nos Estados Unidos também é muito recomendável.
Essa peça mostra que, embora os primeiros casos de infectados com o Sars CoV-2 tenham ocorridos ainda em janeiro, é logo após o carnaval, no distrito de Heisnberg (que ficou conhecida como a “Wuhan da Alemanha”), que o número de casos explode na Alemanha. Há também uma página com a situação atual no país. Der Tagesspiegel também produziu um ótimo especial.
Por fim, Datawrapper e o Flourish estão criando visualizações sobre a covid-19 e Benjamin Ooghe-Tabanou, do Sciences Po médialab, desenvolveu um dos melhores dashboards para acompanhar o tema.
Na era do anti-intelectualismo, notícias falsas, fatos alternativos e pseudociência, estou muito relutante em dizer qualquer coisa. Às vezes parece que nós, cientistas, mal nos aguentamos como estamos. Mas acredito que a utilidade dos dados e da ciência não vêm do fato de serem perfeitos e completos, mas do fato de reconhecermos as limitações de nossos esforços. Assim como queremos analisar as coisas cuidadosamente com estatísticas e algoritmos, também precisamos fazer a coleta de dados cuidadosamente. Somos tão fortes quanto nossa humildade e consciência de nossas limitações.
“Gregor Aisch, who works at the New York Times, gave a talk about the publication’s graphics and their impact. And the scary resumé of the talk was: Barely anyone interacts with the New York Times’ graphics. The New York Times makes arguably some of the best interactives in the field, which made Gregor’s talk even more depressing. His number of only 10–15% of people clicking on buttons — even essential ones — tells you that interactives are a waste of time and money.”
Há cerca de um ano, a ProPublica desenvolveu uma ferramenta para procurar e comparar as localidades e os médicos que mais receitam drogas nos Estados Unidos. Recentemente um dos editores lamentou o fato de muitos usarem a ferramenta para saber quem são os médicos que mais prescrevem opiáceos. O CJR fez um resumo do imbróglio.
Quiz baseado em pesquisa publicada no arXiv (PDF) tenta prever o perfil do usuário a partir dos aplicativos que ele tem no celular. Aparentemente, como mostra a imagem acima, uso apps de uma classe social acima da minha.